Na primeira exposição do ano de 2023 a Galeria Vitória Barros traz uma experiência entre universos distintos: cinco artistas compartilham suas vivências em arte e entrecruzam suas poéticas de vida tendo como fio condutor as obras de Ezita Machado, ou melhor dizendo, Dona Z - umas das grandes mulheres que fizeram a história das artes em Marabá e que convida nossos olhos atentos a distinguir tantas outras mulheres nessa história.
Nessa exposição produzida por Ieda Mendes, o acervo de Dona Z deu partida a uma pesquisa sobre a produção mais recente de mulheres que tem cada vez mais conquistado seu espaço nas artes, como no caso de Paula Correa que vem produzindo constantemente na linguagem da tridimensionalidade abarcando os mais diversos temas de sua sensibilidade como mulher, mãe e claro, pesquisadora em arte; aqui ouso atravessar, pelo campo da pesquisa, os trabalhos de Rafa Cardozo, graduanda em artes pela Unifesspa que vem desenvolvendo um trabalho delicado e potente com imagens de si e do outro numa busca identitária que permeiam reflexões sobre ancestralidade e família.
Entre as convidadas temos a presença de LÍris Pimentel, uma artista da fotografia que expões mundos invisibilizados pela dinâmica acelerada do dia a dia. Suas imagens provocam uma relação mais atenta ao mundo físico, a busca em macro as sutilezas da vida. O que não podemos deixar de notar também no trabalho de Liesel Cerna, uma peruana em terras marabaenses. Liesel nos apareceu em 2020 com um entusiasmo contagiante em produzir e difundir artes visuais, dona de traços e cores muito peculiares à cultura andina, a artista nos aproxima das tradições dos povos originários latinos permitindo que façamos mentalmente um passeio tão igual a nossa própria natividade.
Natacha Barros
Fragmentos(2019), Rafa Cardozo
SOBRE AS ARTISTAS
DONA Z
Dona Z é maranhense nascida em 09 de setembro de 1947. O jeito franzino e recatado esconde muito de uma personalidade forte e severa de D. Ezita, que não mais produz pinturas e prefere um descompromissado artesanato. Antes de artista da pintura, foi professora autodidata e valorizou os estudos e a leitura como patrimônio imperecível e intransferível, o que lhe deu condições de lecionar para crianças com dificuldades de adaptação.
Nas artes visuais sua trajetória começou com sua contribuição na criação do Galpão de Artes de Marabá – GAM no ano 2000, e que desde então participou de diversas exposições coletivas em Marabá. Recentemente, a artista ilustrou a capa do livro “Crisalidas” de sua filha, a escritora Eliane Machado, com o qual conquistou o prêmio de literatura do antigo Instituto de Artes do Pará – IAP. Eliane descreve a mãe da seguinte forma: A arte produzida por Dona Z é revolucionária em todos os aspectos, desde o estético até o sócio-político, rompendo com o cotidiano e as verdades impostas pela sociedade.
RAFA CARDOZO
Artista visual e arte-educadora em formação pelo curso de Licenciatura em Artes Visuais na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Nascida e criada no sudeste do Pará, encontrou inspiração no calor e na vivência na cidade de Marabá para suas primeiras experimentações poéticas com a fotografia de celular, porém o início consciente de produção artística vem de sua vivência acadêmica, onde descobriu outras possibilidades de criação.
Junto a esse processo viu que é possível utilizar a sua produção como uma ferramenta mediadora na busca de identidade, onde a prática artística é um ponto de partida para a reflexão sobre essa identidade formada no cotidiano, nas relações, no meio em que vive e no próprio interior.
PAULA CORRÊA
Paula nasceu em Manaus-AM, em 1983, mas há anos vive e trabalha em Marabá-PA. É artista licenciada pelo curso de Artes Visuais na UNIFESSPA e professora da Escola Sesi. Vem desenvolvendo experiências artísticas nas linguagens do desenho, pintura, gravura, fotografia, escultura em cerâmica e sucata, e com as quais ministra oficinas de produção artística e projetos voltado para educação ambiental.
Realizou os seguintes projetos: Sombras da minha cidade (2015), através do Prêmio PROEX de Arte e Cultura da Unifesspa (2015) em que expos na Galeria de Arte Vitória Barros, no SESC-Marabá e pela lei Aldir Blanc nas ruas da cidade, numa interação entre escultura e audiovisual; Excamas (2017), também pelo Prêmio PROEX de Arte e Cultura da Unifesspa (2017), exposto na própria universidade, na Galeria VB, na Fundação Casa da Cultura e no Museu de Marabá em 2018; Lamúrias douradas (2019), com exposições na Galeria VB e no Sesc Marabá na mostra Histórias da minha cidade - Mapa Gigante, em 2022.
LIRIS PIMENTEL
A artistas marabaense foi iniciada nas artes em oficinas de teatro migrando posteriormente para pintura, porém foi na fotografia que viu grande interesse. Sua primeira exposição individual ‘Fruto’ ocorreu na ARMA (Associação dos Artistas Plásticos de Marabá) em 2014, onde obteve boas críticas que lhe destacaram na fotografia marabaense. No ano de 2015, no projeto de residência artística Atelier Aberto do GAM (Galpão de Artes de Marabá), deu origem a ‘Descamar’, sua segunda série fotográfica.
Em sua produção, Liris ilumina uma natureza em macro, em-cenas imperceptíveis na correria dos dias que são reveladas em composições inusitadas e subjetivadas pelo olhar do fruidor. Com um apurado senso estético, Líris encontrou na fotografia um infindável universo de formas até então anônimas, no qual busca, com poucos recursos técnicos, extrair ao máximo o brilho e frescor das imagens capturadas, resultando em obras com intenso significado e sagacidade pitoresca.
LIESEL CERNA
Liesel Cerna é artista peruana que reside há 10 anos no Brasil, sendo desde 2020 moradora de Marabá. Estudou Desenho Técnico Mecânico e foi por 13 anos Desenhadora em Moldes de Injeção, já no Brasil, cursou Licenciatura em Física e Mestrado em Ciência dos Materiais pela UNESP e pós-graduação de Gestão Cultural e Desenvolvimento de Mercado na SENAC - São Paulo.
Em 2021 foi Coordenadora Pictórica e Diretora de Relações Públicas no “Consorcio Universal de la Ciencia y las Bellas Artes (CUCBA)” e em fundou o grupo de Arte Liesel Cerna Studio com uma plataforma em Facebook, onde realiza exposições virtuais internacionais junto a organizações e artistas de diferentes países.
Liesel Cerna é influenciada pelas vertentes do realismo, cubismo e pós-impressionismo, criando obras a partir de referências de suas raízes andinas como cores vivas, fortes e alegres, contrastes e facetas dessa riquíssima tradição.
Típico de sua cultura, a artista traz pinturas de roupas tradicionais da região da Serra do Peru, caracterizadas por serem tecidas à mão e com combinações em várias camadas multicoloridas e geométricas. O vestuário típico da serra peruana mais conhecidos são: chullo, ponchos, saias, túnicas, chapéus e ianques.
A artista gosta de trazer as personagens de músicos, instrumentos e dançarinos que para ela é um mundo de cores, alegria e magia. Uma das festas preferidas da Liesel é o festival “La Virgen del Carmen” que acontece em Paucartambo, Cusco. Os dançarinos mostram seus trajes de estilo inca e colonial, sendo as principais danças que acompanham a Virgen del Carmen são: Danzaq, Chunchachas, Qhapaq Negro, Qhapaq Qolla e Qhapaq Ch’uncho.
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