Os avanços que vimos experimentando nos dois últimos séculos não só alteraram a nossa forma de nos relacionarmos uns com os outros como também a forma como produzimos a nossa linguagem através de imagens. Estas, são muito mais que seus corpos, ou seja, aquilo que lhe serve de suporte, antes, elas são sínteses de imagens perceptivas e imagens recordadas, seu primeiro corpo é o nosso próprio corpo, e a partir dele vêm a tona como um objeto plástico real, dotado de forma, cor, composição, textura, entre outras características da sua materialidade. Dessa forma, a realidade material é retroalimentada por uma realidade imaginal que pertence ao sujeito, em particular e em coletivo.
Silva Helena Cardoso, Da Série Filme de Cinema 1 e 2, e Tela de Cinema.
A fotografia nasce para ser objetiva - não por outro motivo assim nomearam o conjunto de lentas ópticas do corpo da câmera. No entanto, o seu próprio desenvolvimento tratou de alterar, paulatinamente, o seu conceito e a relação criada entorno da produção fotográfica. A capacidade de tecnologia permite novas agências na criação do autor, que passa a ser performer num gesto quase teatral que se torna a fotografia. Como espectador, desejamos encontrar nela algo para além das nossas próprias imagens, e assim como na escrita, evocamos nos códigos simbólicos de cada época os caminhos para sua compreensão.
Como expressão do sensível, ou como documento histórico, damos vazão as nossas imagens mentais. E é desta forma que se apresenta o Ver-a-cidade, como um um projeto em que a fotografia não mostra somente a cidade, mas sim, releva a relação dos seus habitantes com esta.