O artista é um pesquisador? Que tipo de pesquisa faz aquele que se dedica a criar? Defendendo a ideia de que a arte deve ser encarada como prática de pesquisa, um conjunto de universitários estudantes de Artes Visuais traz ao público os resultados de suas investigações atuais, suas criações. E, evidentemente, a ação de criar é também um ato de arriscar, que coloca esses artistas-pesquisadores em um estado de tensão dobrada: corpo e mente ligados na voltagem 220.
Talvez seja essa a ideia que nos sugere o título da exposição, 220 / Mostra Universitária de Pesquisa em Arte, que Marabá recebe em agosto de 2019, promovida pelo Curso de Artes Visuais da Unifesspa, organizada pelo professor Gil Vieira Costa, dentro do programa Galeria Aberta do Instituto de Arte Vitória Barros. 220 traz um conjunto de resultados das Práticas Integradas de Pesquisa e Extensão desenvolvidas pelos estudantes no curso de Artes Visuais, entre março e julho do ano corrente.
Os seis artistas-pesquisadores em formação que integram a mostra caminham por interesses de pesquisa diversificados. Inigashin (Nathanael Marques) trabalha com a pintura de paisagens marabaenses, em diálogo com paletas de cores buscadas por ele nas pinturas acadêmicas do século 19. Lewis Bicho explora as relações entre técnicas tradicionais e ferramentas digitais, para produzir ilustrações cujo tema é a figura humana. Lorena Braga, por sua vez, recorre à antotipia (um processo fotográfico histórico) para revelar imagens de indígenas captadas por ela na região, construindo um diálogo interessante entre passado e presente, humano e natureza, entre outras interpretações possíveis. Luanderson Santos combina a técnica da marmorização em papel com desenhos de figuras humanas, às vezes em cenas de intimidade cotidiana, caminhando em torno do realismo fantástico. Marcos Adriel busca na iconografia marajoara o vocabulário simbólico que atualiza e reinventa em placas de cerâmica, usando incisões e alto relevo. Por fim, Mayara Sanilee explora a técnica do pontilhismo, utilizando como ferramenta a Castanha-do-Pará, representando lugares de Marabá por meio de uma visualidade que aponta tanto para a cultura fotográfica quanto para a tradição local do nanquim.
220 conta, ainda, com dois artistas convidados, atuantes em Marabá, que apresentam resultados de seus processos criativos em andamento. Rafa Maciel trabalha com retratos humanizados do cotidiano de uma mulher transgênero, criando um ambiente que propõe o contato com a intimidade de corpos e existências que ainda lutam para possuir voz ativa no debate público. Abilio Pacheco, com uma longa trajetória na literatura, busca em uma instalação de artes visuais o instrumental para um importante trabalho de memória, que investiga a sobrevivência de imagens e discursos sobre a Guerrilha do Araguaia.
A mostra também inclui a realização de um ciclo de conversas com os artistas, cuja programação será divulgada em breve. Esperamos que a potência dos artistas-pesquisadores possa energizar nosso circuito, e somar forças para manter a arte e a criação em movimento.
SERVIÇO
220 / Mostra Universitária de Pesquisa em Arte
Abertura: 09/08/2019, às 19h.
Visitação: 12/08 a 06/09/2019, horário comercial.
Galeria de Arte Vitória Barros, Avenida Itacaiúnas 1519.
(94) 3324 1258