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Aos Flâneur de Marabá


A IX Mostra Fotográfica Ver-a-cidade de Marabá convida-nos novamente a olhar para cidade, na solicitude de tornar atraente e inédito aquilo que é tão costumeiro. No entanto o verdadeiro intuito da mostra não é nos incumbir de uma árdua missão, pelo contrário, seu intento é aproximar-nos mais intimamente da cidade.

Evocamos a figura do Flâneur, aquele que vê a cidade a sua maneira e alimenta-se da paixão individual pela mesma, sem a menor pretensão de ilustrar ou florear o espaço, mas com a intenção de (re)velar, levando a vida para cada lugar que vê. Seu entusiasmo é justamente a exterioridade daquilo que está além da percepção visual, primazia pelos elementos internalizados ao espaço da urbe.

Ueslei Calvares Ribeiro, sem título. Na IX Mostra Fotográfica Ver-a-cidade de Marabá

Ao flanar como fotógrafo, buscamos através das nossas lentes, entender o entorno, desconstruindo, reconstruindo, organizando e desorganizando o olhar, atentando-nos a ideia de perceber o espaço além de uma mera ambientação, no propício de ocular a cidade como corpo peculiar, como corpo nosso – extensão inerente de seus habitantes. Todavia, alinhar esse olhar para o íntimo da urbe requer paixão e primordialmente tempo.

Para Charles Baudelaire, pensador e poeta do romantismo europeu, a arte de flanar carece indispensavelmente da não preocupação com o tempo, é necessário “dar-se ao luxo de desperdiçá-lo” em função da busca pelas complexas rugas urbanas, dobras invisíveis cobertas por signos a serem decodificados por olhos que teimam em não querer enxergar.

No entanto, é preciso aprender a ver – assistir – e o que é melhor, aprender a escutar o que o espaço diz, ouvir os sussurros dos becos e vielas, sentir o gelo das grades e das pessoas. Em síntese, uma experiência sensorial que precisamos aprender, para então ler o que a cidade nos revela, a sua própria língua - por sua própria boca - observando como se constrói suas imagens, no ímpeto de ”apreender” para então externar sua essência. Entretanto, para tal desafio é preciso vagar pelo santuário sagrado do Flâneur. Talvez o que ele nos propõe, é simplesmente o desviar do olhar, um desvio para pequenos recortes da cidade, recortes que permitem leituras individuais, porém costuradas a um pano maior que configura o corpo inteiriço da cidade.


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